quinta-feira, 14 de janeiro de 2016

Professor de vida

2016.

Quando eu estava no primeiro ano do colegial (uns seis anos atrás. meu deus) eu tive um professor de literatura que, de certa forma, me inspirou. Ele dava aula sabendo sobre o que estava falando e odiava os alunos. Ele se sentava em uma mesa, colocava os pés sobre a cadeira e perguntava: "o que eu falei na última aula?". Não tinha que seguir livro, não tinha que seguir nada... Só a cabeça dele mesmo.
Bom, na verdade eu acho que ele gostava da gente, mas fingia odiar todo mundo. Muitos alunos também o odiavam e deixavam isso bem claro. O professor fingia estar pouco ligando. Talvez estivesse mesmo.
Ele compartilhava alguns detalhes da vida dele conosco. Dizia que namorava, mas nunca dava muitos detalhes da moça. Ele dizia que ia aos supermercados às 3 da manhã comprar uma garrafa de vinho e bebia sozinho em casa. Ele fumava e dizia que não se importava com a morte. Certa vez ele tentou atropelar meu grupo de amigos com o carro.
No final do ano (ou sei lá quando... um aniversário, uma licença?) a sala de aula fez uma carta elogiando-o como professor e o qualificando como pessoa. Esse cara se emocionou e tentou se mostrar durão, mas não conseguiu. Ele amava aqueles alunos, não?

Hoje em dia tenho percebido que estou me tornando aquele cara. Eu não sei dizer bem a razão, mas estou.
Uns anos atrás eu achei que seria mais que isso (sem desmerecer o cara, por favor). O meu eu de três ou quatro anos atrás me daria uns tapas na cara e diria: "Seja um leão!". Eu responderia virando para o lado e puxando a coberta até as orelhas.

Mas ai percebi que ele foi a figura mais "real" da minha vida escolar.
A professorinha com avental colorido não existe. Aquela que colava adesivo na sua prova quando a nota era boa também não. Sabe aquela que escrevia "parabéns!" e colocava um coração no ponto de exclamação? Então... Ela não existe. E aquela que dizia que sua caligrafia precisava melhorar? Bullshit. Ah, mas tem aquele professor que estava cagando e andando pra você... Ele era um babaca irreal. Gente de verdade tem problema, gente de verdade não é assim tão feliz.
Os professores da escola não nos preparam para a vida. Nossos pais também não.
Provavelmente porque essas pessoas se enganam com o conceito de felicidade.

Bom, não sei... A questão é que um professor me deu uma prévia de como a vida seria. Uma pessoa foi sincera em dizer como era a vida. Ele tinha uma casca dura, mas era oco por dentro. Precisava ser preenchido, mas não havia o que o preenchesse. Gente real.

Se cheguei a um momento da minha vida onde me vejo naquele cara, significa que estou saindo da bolha colorida da infância. Pensar no meio da madrugada pode ser interessante quando se tem 14 anos, mas hoje em dia tornou-se um... problema.


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